Agenda de inovação é propícia em tempos de crise
Para especialistas, capital intelectual é a grande vantagem competitiva das startups, que apostam na capacidade de atrair e reter talentos, inovar e estocar conhecimentos
“Empresas inovadoras estabelecidas e novos entrantes, as chamadas startups, vêm rapidamente escalando seus negócios na medida em que focam em modelos de gestão dos intangíveis” INGRID STOECKICHT - I2H “Muitas organizações ganham muito dinheiro com modelos de negócio impensáveis até há pouco tempo. Airbnb e Uber não têm um único quarto ou veículo, mas valem milhões de dólares” SOLANGE MACHADO - IMAGINAR SOLUTIONS
Em países em desenvolvimento e com recursos escassos, como o Brasil, investir em inovação poderá parecer irresponsável. Em tempos de crise, seria mais seguro canalizar recursos exclusivamente para áreas com retornos mais firmes, como transportes ou infraestrutura. Mas essa é uma visão errada.
Não basta só cortar gastos. Quando a crise se prolonga, como é o caso da atual recessão brasileira, as empresas que realmente se destacam são as que conseguem combinar frugalidade com investimentos em inovação. Em 2017, o Brasil ocupou a desonrosa 69ª posição no Índice de Inovação Global, atrás de México, Rússia, Índia e África do Sul. Para tornar o conceito de inovação uma realidade aplicável, é fundamental que os gestores brasileiros desenvolvam um novo olhar sobre o mercado, organizações, colaboradores e o país como um todo.
É o que destaca Ingrid Stoeckicht, cofundadora do Innovation to Health – I2H, instituto para inovação em saúde, presidente do Instituto Nacional de Empreendedorismo e Inovação – INEI e coordenadora do programa de MBA de Gestão Estratégica da Inovação da FGV. Para ela, os momentos de crise aguda são os mais propícios para adotar a agenda da inovação. E o Brasil se traduz em um “mar de oportunidades” para inovar:
— Desafios a serem solucionados não nos faltam. A inovação é uma solução para atender à necessidade de pessoas que não estão sendo atendidas adequadamente pelos serviços e produtos tradicionalmente oferecidos pelas empresas — ressalta Ingrid.
Sob a ótica do mercado e das organizações, diz a consultora, estamos vivenciando uma forte crise de gestão, pois os gestores insistem em conduzir seus negócios com base na gestão dos ativos tangíveis: capital físico e financeiro.
— Enquanto isto, empresas inovadoras estabelecidas e novos entrantes, as chamadas startups, vêm rapidamente escalando seus negócios na medida em que focam em modelos de gestão dos intangíveis, na sua capacidade de atrair e reter os melhores talentos, inovar e estocar conhecimentos. É necessário olhar para a inovação sob a ótica da criação de valor, e não sob a ótica de geração de custos.
Segundo a especialista, muitas soluções de alto valor agregado não conseguem chegar ao mercado devido às imensas barreiras que enfrentam. É fundamental, diz ela, estancar a evasão de talentos brasileiros inovadores para outros países que possuem ecossistemas mais acolhedores.
— Nunca antes neste país vivemos uma fuga tão dramática de nossa inteligência — diz.
ATITUDE MENTAL
O capital humano também é um dos maiores desafios da inovação para Solange Mata Machado, doutora em competitividade e mestre em estratégia e inovação pela FGV e diretora da Imaginar Solutions. Como as tecnologias vivem em mutação, o esforço das empresas tem sido o de reconfigurar a mentalidade das pessoas, com base no mindset – atitude mental com que encaramos a vida.
Segundo ela, o mindset se divide em fixo e de crescimento e define nossa relação com o trabalho. As pessoas com mindset fixo acreditam que nasceram com uma cota de inteligência que não vai mudar. Essa crença, acrescenta, dificulta o desenvolvimento e a aprendizagem e limita as realizações, pois essas pessoas evitam desafios e experiências novas, por medo do fracasso. Já aquelas com mindset de crescimento entendem que sua inteligência melhora cada vez mais pela aprendizagem e que o caminho do sucesso está no resultado do seu esforço.
— Para essas pessoas, é possível mudar as qualidades. E isso não tem a ver com idade, mas com a crença de que as aptidões podem ser cultivadas e aperfeiçoadas — explica.
Apoiadas no aumento da demanda por percepção humana e inteligência social, habilidades ligadas ao aprendizado contínuo, as empresas buscam se reinventar, criar novos negócios e mudar hábitos. Solange cita dois exemplos: a Astalift, marca de cosméticos criada pela Fujifilm, obrigada a buscar novos rumos com a chegada da era digital, que sentenciou de morte os filmes de rolo. Outro é a GE, que parou de fabricar turbinas para ser provedora de informação baseada em tecnologia. Hoje, sob o nome de Predix, vende soluções para sua cadeia de valor.
Para Solange, o futuro será das empresas exponenciais, que podem manter apenas um pequeno grupo de funcionários e usar intensamente tecnologias avançadas e recursos externos.
— Muitas organizações exponenciais obtêm altos lucros com modelos de negócio impensáveis até há pouco tempo. O Airbnb não tem um quarto sequer, o Uber não possui veículos, o Singu (aplicativo que tem propõe levar profissionais de beleza até seus consumidores, por meio do agendamento online) não é dono de um único salão. Mas todos valem milhões de dólares — conclui.
Fonte: O Globo
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